Nova Política de Organização – “o partido que queremos daqui a dez anos”
O PCdoB tem uma larga tradição em seu pensamento político. Quando se adota uma nova orientação política, uma flexão tática, é impressionante como a onda de choque das novas formulações se estende por todo o país, em numerosas intervenções do alto até a base, seminários, reuniões, agitação... Todos os órgãos da imprensa partidária formam fileiras em torno da difusão, compreensão e significação da nova orientação. Inicio por aí para dizer que um mérito do trabalho organizativo nas últimas décadas foi compreender que também nessa esfera – aparentemente tão “inamovível”, como se constituída de orientações rígidas e doutrinárias – há dinâmica, há necessidade de adaptações políticas, de ajustes de discursos e práticas. Natural, portanto, que devam envolver todos para sua apreensão, para fundamentar, galvanizar, mudar práticas do coletivo. A organização é feita de orientações políticas, para cumprir a política. Não é assunto apenas de organizadores.
Iniciei por aí para dizer que a Comissão Nacional de Organização deu um primeiro balanço de seu plano de trabalho, traçado em dezembro de 2009. Após um semestre, avanços e deficiências foram avaliados e serão discutidos pela CNO. Nesse período ficou claro que estamos em presença de uma nova política de organização, numa luta pela implantação dos eixos e focos modificados em todo o país. É uma batalha complexa, talvez prolongada, e como tal, ela solicita empenho que envolve todas as esferas de construção partidária.
A começar pela própria compreensão de que se trata de uma mudança importante de conteúdo. Onde a aparência revela apenas semelhanças, há que ver na essência aspectos novos que reconformam o conjunto da política. Se mudam aspectos nucleares da linha de organização, o conjunto da estruturação partidária ganha outros componentes, outros valores, outros desafios. Aqui entra a segunda comparação: tal como a introdução de bacilo determinado muda a qualidade do leite para queijo.
Ao longo dos últimos 12 anos, foi sendo elaborada uma linha política de estruturação partidária. Tal ideia partiu em 1997 das formulações de Renato Rabelo, ocupando a Secretaria Nacional de Organização. Isso obteve grande desenvolvimento, em correlação com a dinâmica política das vitórias alcançadas em 2002, com Lula presidente.
Um grande ganho político foi transformar o tema partido, sua estruturação e organização, em tema vivo, dinâmico, afeito às circunstâncias da ação política e peculiaridades brasileiras. O 12º Congresso completou esse amadurecimento porquanto definiu o novo Programa Socialista, que configurou com maior inteireza o partido que se necessita no Brasil.
Particularmente a linha organizativa, como um dos três pilares da estruturação partidária – ao lado da construção política e ideológica – foi enriquecida nestes anos. O
1º e 2º Encontros Nacionais sobre a Questão de Partido, com o novo Estatuto do 11º Congresso e a Política de Quadros contemporânea do 12º Congresso, deram contribuições decisivas.
Alcançado esse patamar de força organizada – mais de 250 mil filiados, mais de 100 mil participantes ativos da vida orgânica – e o nível de elaboração teórico-política sobre a estruturação partidária, uma visão prospectiva pode ser estabelecida. Um partido de um milhão de membros, unido, combativo, militante, pode ser posto no horizonte, se alcançamos uma terceira vitória do povo em outubro.
É Isso a dar ensejo à nova política de organização. No seio de pontos da linha de estruturação que se mantêm atuais, componentes organizativos modificados se apresentam e compõem uma nova configuração política para a construção partidária. Basicamente, a ideia de dirigir o partido por meio da política de quadros e conferir maior permanência a um núcleo extenso de militantes com vida associativa e ação política desde a base.
Quadros definem a essência da vida do Partido Comunista. Vida militante organizada forma os quadros. Esses dois pilares darão a tônica de todo o trabalho de organização nos próximos anos. São elementos novos; como tal, solicitam novos planos, abordagens, métodos e estilos de trabalho para as secretarias de organização. E grande empenho de todos na difusão, fundamentação, agitação, implementação persistente desse rumo.
Podemos recapitular os elementos de conjunto da linha de estruturação partidária:
1. A política no comando para avançar na construção do PCdoB, a ideologia como cimento, a organização como força material. Almejar um partido combativo, unido e disciplinado, bem formado teoricamente, politicamente sagaz, que lidere os trabalhadores e o povo e lute pela hegemonia de suas ideias e seu projeto.
2. Seguir fazendo crescer o PCdoB, à escala de um milhão de membros, a partir de uma terceira vitória do povo em outubro. Abri-lo decididamente para os trabalhadores e todo o povo. Estender a força eleitoral e institucional partidária, ampliar a presença de suas organizações a todos os cantos e segmentos, a todos os municípios com mais de 50 mil habitantes.
3. Aprofundar a ligação com os movimentos sociais e avançar na reciprocidade entre essa atuação e a construção partidária, politizando-os e unindo o povo brasileiro em torno de um novo projeto nacional de desenvolvimento.
4. Estender a influência das ideias do programa socialista, com forte trabalho de comunicação, propaganda, falar a toda a sociedade e chegar a todos os segmentos de pensamento críticos da sociedade.
5. Perseguir estrategicamente a construção do partido entre os trabalhadores, a juventude e a intelectualidade avançada.
6. Governar o partido por meio da política de quadros renovada no 12º Congresso. Instituir poderoso trabalho sistemático com os quadros, a partir de cada comitê estadual. Cada quadro ocupar um posto bem definido no rumo do projeto partidário. Solicitar dos quadros o máximo empenho e compromisso com a atuação partidária em qualquer uma de suas dimensões. Seguir num esforço persistente de valorização dos quadros comunistas trabalhadores, jovens e mulheres. Fortalecer o trabalho dos comitês partidários em todas as esferas.
7. Enriquecer a vida militante, em organizações partidárias as mais variadas e melhor definidas, para aprofundar liames militantes entre os membros do partido, entre eles e o povo, entre eles e as direções partidárias. Apoiar cada vez mais esse esforço a partir dos comitês partidários, com quadros intermediários em grande escala, formados e apoiados para operar a vida partidária na base. Conferir estabilidade a uma formação militante extensa, tendo as relações de trabalho como modo prioritário de relações orgânicas partidárias.
8. Após as eleições, promover um esforço de revisão e aprimoramento das formas organizativas partidárias nos grandes municípios, tendo em vista as batalhas políticas e sociais, a constituição de condições partidárias avançadas para as eleições de 2012 e as conferências partidárias de 2011.
9. Inovar as formas, meios e conteúdos do trabalho de formação política, teórica e ideológica dos quadros e militantes, para alcançar ampla escala em todo o país.
10. Alargar a base de aplicação dos compromissos militantes com respeito ao financiamento da atividade partidária por meio da Carteira Nacional de Militante e do Sistema Nacional de Contribuição dos Quadros.
Não é demais insistir: enriquecer a vida militante e implementar a política de quadros não é um discurso organizativo; ao contrário, envolve o conjunto da direção, notadamente a direção política realizada por meio de diretivas de mobilizações de base. Para pôr em movimento essa política de estruturação cabe em especial à Comissão Política Nacional e ao Comitê Central liderar o esforço em todo o país, com apoio do conjunto das direções partidárias.
Volto ao ponto de partida. O balanço de trabalho da organização, no último semestre, destina-se a por holofotes sobre o quanto se avança nessa compreensão, que esforços precisam ser feitos, nacionalmente e em cada Estado.
Chama a atenção o fato de a Comissão Política Nacional ter adotado resolução sobre o tema. É importante incremento de cultura política. Ademais, um Sistema de Gestão
Integrada de trabalho da direção nacional será constituído como ferramenta para que esse órgão de fato tenha informação e protagonismo adequado a esses fins.
Na Secretaria de Organização foi constituído o Departamento Nacional de Quadros João Amazonas. A partir dele, está criada a Rede Quadros a fim de cadastrar sistematicamente os quadros de todos os níveis. Ambos deverão ter correspondência em todos os Estados.
Inaugura-se igualmente o Portal da Organização. Ele se destina a organizar a opinião e impulsionar a prática de governar o partido por meio da política de quadros e estimular a vida militante em organizações partidárias dos mais diversos tipos, dinamicamente definidas e mais estáveis. Será como que um instrumento das organizações partidárias para debater sua construção, como o outrora intitulado Jornal da Célula dos tempos presentes. Conta, por isso, com o senso crítico da militância, para dar vida e firmeza ao PCdoB.
A CNO foi enriquecida com a presença de experientes secretários de organização e acrescida de membros para uma atuação regionalizada, que se destina a dar controle especificamente organizativo da construção partidária em todos os Estados do país, que foram percorridos em maior parte neste semestre.
Isso é o que representa a Nova Política de Organização. Ela se estenderá e produzirá efeitos ao longo dos próximos anos. Conta com a consciência e motivação de todos, particularmente dos quadros dirigentes, em primeiro lugar de seus líderes políticos. Deve-se lembrar que atrasos políticos no modo de encarar e assimilar a linha de estruturação têm enorme repercussão no desenvolvimento partidário, tão grande quanto erros no modo de situar politicamente o partido em cada cenário. Se a organização serve à política, uma débil organização expressa e supõe uma débil política. Ao contrário, uma política justa, acompanhada de uma linha de estruturação conseqüente, permite dizer que o PCdoB que podemos ter daqui a dez anos será aquele que conquistamos com vitórias políticas e com a educação que ministramos às novas gerações militantes desde já.
Walter Sorrentino
29/6/2010